quarta-feira, 29 de setembro de 2010

como andam os motores?

Como prometi antes do GP de Cingapura, o Voando Baixo vai acompanhar de perto a utilização dos motores na reta final da temporada 2010 da Fórmula 1. Esta é uma das variáveis mais importantes na disputa do título e quem tiver poupado mais seus propulsores e sofrido menos quebras ao longo do ano tende a levar vantagem nesta reta final. Para esclarecer: a Federação Internacional de Automobilismo (FIA) mudou a forma com que as unidades são utilizados nesta temporada. Em vez da obrigatoriedade de uso por duas ou três corridas, a entidade estabeleceu um limite de oito no regulamento técnico da Fórmula 1 em 2010. A cada novo utilizado além deste número (nono, décimo, 11º, e assim por diante), o piloto perde dez posições no grid de largada noprimeiro evento em que ele é utilizado. Ou seja: estourar o limite pode custar muito caro na briga do título.
A Ferrari continua em desvantagem na temporada. Fernando Alonso renasceu na briga pelo título mundial, mas já usou todas as suas oito unidades disponíveis em pelo menos uma corrida neste ano. O espanhol usou o propulsor número seis pela terceira vez em Cingapura, mas ainda pode reutilizar outros da temporada. O sétimo, por exemplo, só andou no GP da Bélgica, e o oitavo, no GP da Itália. Estes dois, apesar de terem passado por provas exigentes, devem ser recolocados no carro com tranquilidade. A vida útil de ambos ainda deve ser longa. Já Felipe Massa usou o nono na corrida noturna, mas escapou da punição por causa do problema no Q1. O brasileiro tem as unidades sete, oito e nove com apenas uma corrida.
A RBR está tranquila. Mark Webber usou o motor de número sete pela primeira vez em Cingapura e poderá dosar suas unidades com facilidade ao longo das últimas quatro corridas. Sebastian Vettel, Jenson Button e Lewis Hamilton disputaram a segunda prova do sétimo motor. Apesar da margem ser um pouco mais apertada para as provas finais do campeonato, ela não deve atrapalhar na luta pelo título de 2010. Rubens Barrichello, por sua vez, é o piloto que menos usou motores na temporada 2010: seis, ao todo, após Cingapura. Ele tem dois novos para os quatro GPs finais. Está bem, portanto.
Confira abaixo os motores usados pelos seis primeiros e os brasileiros no Mundial de Pilotos:
P.Pil.Eq.BAHAUSMALCHNESPMONTURCANEURINGALEHUNBELITACIN
1WEBRBR112233344555667
2ALOFER1 e 233244455566786
3HAMMcL122333444555677
4VETRBR122333445566677
5BUTMcL122333444555677
6MASFER1 e 233344455566782 e 9
11BARWIL112333445555666
21DIGVIR122333455666788
23SENHRT122333444NC56677
Número indica a unidade usada pelo piloto em cada uma das corridas da temporada 2010

domingo, 26 de setembro de 2010

Renascimento sob a luz dos holofotes

Alonso comemora a vitória em Cingapura
Ele foi simplesmente perfeito na corrida deste domingo. Não existe nenhum aspecto de seu desempenho em Cingapura que possa ser questionado. Fernando Alonso fez a pole, melhor volta, liderou a corrida de ponta a ponta e venceu, fazendo seu primeiro Grand Chelem da carreira (nome dado ao êxito nestes quatro quesitos em um GP). Irrepreensível. O espanhol, que já havia vencido na Itália, há 15 dias, entrou de vez na briga ao assumir a segunda posição do Mundial de Pilotos, atrás apenas do sortudo Mark Webber (falaremos dele mais tarde). Ele renasceu para o campeonato sob a luz dos holofotes cingapurianos.
Alonso fez uma boa largada, quando defendeu limpamente a posição do ataque de Sebastian Vettel. Depois, no primeiro trecho da prova, forçou bastante para abrir uma boa vantagem para seus rivais. Apenas o alemão da RBR se manteve próximo, o que criou um clima de suspense para o momento dos pit stops. Nem as duas entradas do safety car, uma no início e outra pouco depois da metade da corrida, atrapalharam o amplo domínio do bicampeão da Fórmula 1. Ele seria ameaçado apenas no fim, quando já poupava o carro e teve de enfrentar vários retardatários mais lentos. Mas a pressão de Vettel não foi suficiente para ameaçar Alonso.
Alonso à frente de VettelAliás, sejamos justos: Vettel foi bastante maduro na parte final da corrida. Ao ver Alonso próximo, eu achava que ele iria atacar loucamente o espanhol, como é praxe no comportamento do alemão. Mas ele se manteve atrás do espanhol, procurou por um melhor momento para tentar a manobra, mas ele não apareceu. Ele não perdeu a paciência e se manteve em segundo, somando pontos importantíssimos para o campeonato. O piloto da RBR ainda tem chances remotas, principalmente porque Webber, seu companheiro, é o líder. Mas sua proximidade em relação aos primeiros pode ser um bom argumento para não virar escudeiro do australiano.
Webber, por sua vez, foi bafejado pela sorte neste fim de semana. Em quinto, ele aproveitou o safety car precoce para fazer sua parada nos boxes. Depois, ousado, fez várias ultrapassagens e roubou a terceira e a quarta posições dos carros da McLaren. Só que, na relargada após a segunda entrada do carro de segurança, o australiano se enrolou com alguns carros mais lentos e deu chances para Lewis Hamilton tentar o troco. O inglês arriscou demais e os dois se tocaram. O campeão de 2008 abandonou, mas o líder do campeonato permaneceu na pista e terminou em terceiro. Após a prova, a análise da equipe e da Bridgestone mostrou que o pneu ficou a apenas cinco milímetros de se soltar da roda após resistir a 25 voltas (!). Diria que são os primeiros sinais da chamada sorte de campeão…
Rubens Barrichello também fez uma boa corrida, que poderia ter sido ainda melhor se ele tivesse acertado a largada. O brasileiro, que saía em sexto, caiu para oitavo e ficou preso atrás dos carros de Nico Rosberg e Robert Kubica. Mesmo assim, ele ainda salvou a sexta posição em Cingapura, assegurando pontos importantes para o campeonato. Já Felipe Massa, que saiu em último, aproveitou a primeira entrada do safety car e ganhou varias posições após seu precoce pit stop. Preso atrás de pilotos mais lentos, ele parecia sem ação para tentar algo. No fim, a oitava posição foi lucro para ele, após as punições a Nico Hulkenberg e Adrian Sutil.

Erros e Acertos em Cingapura

Em um circuito de rua como o de Cingapura, normalmente as atividades de pista são marcadas por muitos erros dos pilotos, que arriscam tudo para andar rápido. Para isso, eles precisam passar a milímetros dos muros de concreto e dos guard rails, além de atacar todas as zebras possíveis. Por isso, uma volta certa nesse tipo de pista é sempre muito comemorada. Foi o caso de Fernando Alonso, que acertou todos os trechos de sua primeira tentativa na parte final do treino classificatório e vai largar na pole position da corrida na pista de Marina Bay, neste domingo. Entretanto, ele só conseguiu assegurar a posição graças a um erro.
E a falha foi cometida por um rival, o seu principal neste treino. Conhecido por seu arrojo e por ter um lado psicológico instável, como demonstrado ao longo desta temporada, Sebastian Vettel voltou a aprontar das suas. Após dominar todos os treinos livres e ter o melhor carro do fim de semana, o alemão estava com tudo nas mãos para anotar mais uma pole em 2010. Ele vinha bem nas duas primeiras partes da classificação, poupando o carro, mas errou em sua primeira tentativa na superpole. Ou seja, voltaria pressionado para o esforço derradeiro. Tudo começou bem no primeiro setor. Só que, no segundo, o alemão exagerou em uma curva e raspou no muro da saída, perdendo décimos preciosos e a primeira posição para Alonso. Outro para a conta.
Vettel, no entanto, se redimiria em um lugar incomum: na sala da entrevista coletiva oficial após o treino classificatório. Ao ser questionado sobre a falha na volta rápida e a consequente perda da pole, o alemão foi espirituoso. Ele lembrou da primeira corrida na cidade-estado, em 2008, e do escândalo do “Cingapuragate”, quando Nelsinho Piquet, a mando de Flavio Briatore e Pat Symonds, jogou o carro no muro para auxiliar Alonso, que largava em 15º, a vencer a corrida. Com um sorriso irônico, o piloto da RBR lembrou de um dos episódios mais embaraçosos do rival, que ficou com cara de paisagem ao ser abordado pelos jornalistas.
Vettel sorri após o treino
Ao falar em acertos no treino deste sábado, não dá para esquecer de Rubens Barrichello, primeiro piloto após os carros de Ferrari, McLaren e RBR, na sexta posição. O brasileiro fez uma volta sensacional na superpole e ainda contou com o problema de Felipe Massa no Q1 para conseguir a vaga na terceira fila. O piloto da equipe italiana, aliás, terá um trabalho homérico saindo da última posição no apertado circuito de Cingapura. Ele vai precisar dosar cuidado, ousadia e paciência para crescer ao longo da noite. A chuva poderá ser uma ajuda.
A corrida promete muito. Os carros de Ferrari, RBR e McLaren parecem ter o mesmo nível de desempenho e os cinco candidatos ao título mundial estão nas cinco primeiras posições do grid. Este será o primeiro capítulo da disputa e um abandono será fatal nas pretensões dos pilotos neste fim de temporada. Para mim, Alonso tem uma excelente vantagem, mas a presença da RBR de Vettel a seu lado pode ser um fator complicado. Os dois, aliás, não têm largado bem nesta temporada e estão com Lewis Hamilton, Jenson Button e Mark Webber em seus encalços. Com chuva então, algo inédito na Fórmula 1, poderá ser sensacional para o público.
Assista aos melhores momentos do treino classificatório em Cingapura: